12 de outubro de 2016

As saudades


Depois da lista de coisas que eu mais amo na China e que vou morrer de saudades quando voltar, decidi fazer também uma lista das coisas que fazem falta no Brasil, porque, apesar de não parecer, elas existem sim.

5 de outubro de 2016

As melhores x as piores coisas da China



Toda vez que encontro algo muito bom aqui, sinto uma mistura de felicidade com tristeza: felicidade por poder aproveitar aquela coisa no momento e tristeza porque sei que no Brasil não vou encontrar mais. A maioria dessas coisas são comidas, mas também existem alguns lugares e mesmo situações de que vou sentir muita falta – sobre meus amigos acho que nem preciso falar. Como geralmente meus textos são muito longos, hoje decidi trazer algo mais leve, então vai ser só uma lista das minhas coisas preferidas e das coisas que eu menos gosto na China.

As coisas das quais mais vou sentir falta


-       Pepino com alho: no topo da lista, claro que estaria uma comida, a minha comida preferida nesse país. Sempre gostei muito de pepino, mas nunca foi algo cotidiano – infelizmente. Porém aqui eles comem bastante e acabei descobrindo essa nova maneira de preparar o pepino que pode ser consumida como café-da-manhã, almoço ou jantar (muitas vezes eu como nas três refeições). É só pepino cru cortado em rodelas com alho cortado em pedacinhos por cima, bem simples e uma delícia!

(Jiaozi preparados a vapor e servidos numa panela de bambu típica da China)

-       Baozi e Jiaozi: são dois “bolinhos” tradicionais da China, bastante oleosos, preparados com uma massa especial que enrola todo tipo de recheio, desde carnes a vegetais. Meu sabor preferido nos dois casos é carne de porco – o que foi um tanto irônico para mim, pois no Brasil eu não costumava comer carne de porco por não gostar do sabor, mas aqui ela é preparada de uma maneira diferente que fez com que se tornasse minha carne preferida.

-       Segurança: com certeza vou sentir falta da liberdade que tenho aqui de poder andar sozinha na rua no meio da noite, de poder usar o celular na parada de ônibus, de não precisar ter outro celular para entregar para o assaltante e poder manter o meu verdadeiro; enfim, vou sentir falta de poder viver normalmente.

-     Confeitarias: como a viciada em doces que sou, estou sempre procurando confeitarias para frequentar, e as daqui da China possuem inúmeras vantagens em comparação com as do Brasil: os preços são muito menores e a quantidade de opções de lugares é muito maior! Isso sem mencionar o fato de que todos os doces que já comi aqui estavam deliciosos e, pelo menos antigamente no Brasil, eu costumava ter muita dificuldade para encontrar doces confeitados que me agradassem.

-       Preços: apesar de ainda não ter ido às compras aqui – só ao supermercado, porque aparentemente a comida é minha prioridade em diversos aspectos – eu já percebi que os preços são muito baixos e tudo que eu precisei comprar, como tênis, meias, foram muito mais baratos do que seria no Brasil, menos da metade do preço do que seria em reais – isso sem considerar o fato de que o real custa o dobro do yuan. Uma das coisas que mais gostei aqui, em termos de compras, é que os cadernos são muito baratos! Comprei dois cadernos lindos por cerca de dez reais, o que nunca seria possível no Brasil.

28 de setembro de 2016

Perdida na China

(Foto tirada em uma vez que me perdi e me vi no meio de uma construção sem saber qual caminho seguir)
Sempre achei a teimosia uma característica positiva, mas de vez em quando ela me revela sua dualidade, em especial quando eu me perco. Como eu já disse em textos anteriores, eu gosto bastante de andar e sempre opto por fazê-lo se tiver a oportunidade, pois me sinto muito mais livre. Sempre que vou fazer uma rota nova, pesquiso no Google Maps e desenho um mapa em uma folha de papel, porque não confio muito na bateria do meu celular (analisando bem, confiar em um mapa precário e mal desenhado também não é lá muito seguro). A quantidade de vezes que já me perdi é tamanha que, assim como os carros que estão quase sempre me atropelando, se tornou uma situação cotidiana.

A primeira vez em que me perdi, quando a Kim ainda morava aqui, foi uma das mais memoráveis. Se perder com ela nunca foi assustador, afinal, independente do que pudesse acontecer, ao menos estávamos juntas e ter uma pessoa aos seu lado em momentos como esses ajuda bastante psicologicamente – é mais difícil, ao menos para mim, entrar em desespero se eu sei que não estou sozinha.

Logo que chegamos na China, nossa host-family costumava nos deixar e nos buscar no local de trabalho; isso, porém, só durou uns dois dias. No primeiro dia em que precisamos voltar para casa sozinhas, Kim e eu nos perdemos – junto com uma voluntária local que estava tentando nos ajudar. Enquanto ainda estávamos no metrô, o inglês da voluntária se mostrou bastante precário, uma vez que acontecia de dizermos uma coisa, ela negar e repetir exatamente o que havíamos dito. Uma das cenas foi a seguinte:
21 de setembro de 2016

As casas sujas

(Típica mesa de café-da-manhã chinesa)
Depois que cheguei na primeira host-family, demorei pouco tempo para perceber que seus hábitos de limpeza em relação ao apartamento eram um tanto relapsos. Pensei que poderia ser pelo fato de se tratar de uma família com boas condições financeiras, então eles não estavam muito acostumados com trabalho doméstico e chamariam alguém para fazê-lo, pelo menos uma vez ou outra. Decidi, como sempre, dar uma segunda chance para a China e não estereotipar todas as famílias baseada apenas nessa experiência, até que eu me mudei para a nova casa e percebi que a situação era a mesma.

Aqui na China não é comum ter empregadas domésticas a não ser que se trate de uma família muito rica, o que não é desculpa para manter a casa suja, mas é a única explicação que eu consigo criar na minha mente para justificar a situação das casas em que morei e das casas que conheci por aqui. Antes de mais nada, por alguma razão que eu não entendo, as mesas de centro das salas servem de depósito para todo o tipo de coisa, desde caixas de lenço a secadores de cabelo, e os tão comuns arranjos de mesa que utilizamos no Brasil mal se veem por aqui. Depois vem a situação da mesa da cozinha, que é tão peculiar e, na minha opinião, tão anti higiênica, que merece um parágrafo só para ela.
14 de setembro de 2016

O trânsito maluco


Tantas coisas acontecem comigo todos os dias que, na maior parte do tempo, não sei como dividir ou juntar tudo para transformar em um texto coeso; já certas coisas acontecem tanto que eu acabo esquecendo de escrever sobre, então vou dedicar o texto de hoje às situações mais comuns do meu cotidiano em Changchun – percebam que eu não disse China, pois existem algumas peculiaridades nessa cidade em que moro.

O trânsito é, decerto, o aspecto mais peculiar dessa cidade. Eu costumava achar o trânsito de Natal bastante caótico, em especial durante os horários de pico, mas depois de morar em Changchun, dirigir em Natal parece ser a coisa mais segura e tranquila do universo. Isso porque aqui, além do péssimo hábito de buzinar o tempo todo, por qualquer coisa (se um pedestre está a 10 metros, eles buzinam, se está a 100 metros buzinam também para garantir; se um pedestre pisa na rua; se um pedestre pensa em pisar na rua; se o carro do lado se aproxima demais; se o motorista acha que existe o risco do carro ao seu lado se aproximar demais; se o carro do lado buzina para você; se um ônibus se aproxima demais; se um ônibus buzina para você;), e chega a irritar bastante, porém, em muitos casos, é compreensível, pois a quantidade de buzinas é proporcional à quantidade de loucuras que eles cometem. Já não sei mais se as leis de trânsito são as mesmas em todos os países, porque os motoristas de Changchun são tão descuidados que parecem viver sob suas próprias leis. Antes de mais nada, quando querem atravessar uma rua movimentada, eles apenas vão. Não é como em Natal, que a gente vai entrando aos poucos. Não, eles entram com velocidade. E o mais interessante é que os outros motoristas conseguem reagir a tempo e, claro, buzinar bastante.

Mas o pior de tudo, na minha opinião, sobre o trânsito daqui é que os motoristas não param o carro a não ser que o sinal esteja vermelho. Se você é um pedestre parado na faixa, esperando para atravessar a rua, tenha a certeza de que vai esperar para sempre. Os únicos casos em que vi um carro parar para os pedestres nessa cidade foram quando tinham pessoas demais e eles não tinham alternativa – aconteceu duas vezes. O que eles fazem, quando veem que alguém está atravessando – além de buzinar muito, obviamente – é diminuir um pouco a velocidade, e o pedestre que se cuide para não ser atropelado. Ou então, muitas vezes, eles desviam das pessoas. Parar o carro jamais.

Queria estar brincando ao dizer que toda vez que atravesso uma avenida movimentada em segurança eu dedico um momento para agradecer ao universo por ainda estar viva, porém é a mais pura verdade. O número de vezes em que quase fui atropelada é tão alto que nem consigo pensar em exemplos, já virou algo tão cotidiano quando abrir os olhos de manhã. Na maior parte do tempo o que acontece é o carro passar muito perto de mim, a ponto de dar um susto enorme e “tirar um fino” assustador. Isso, entretanto, são os carros. Com as motos é outra história.
25 de agosto de 2016

Banhos e boates

Fumar é incomodamente comum na China. Em restaurantes, estações de metrô e mesmo em escolas; se não há uma placa de proibido fumar, acredite, eles vão fumar. Para uma cultura tão rica e tão antiga, acho bastante primitivo, para dizer o mínimo, que eles não se importem com os riscos que o cigarro causa para a saúde. Tudo bem fumar ao ar livre, onde só o fumante se prejudica, mas não consigo entender a lógica de fumar em um restaurante – o ambiente vai ficar fedendo, assim como todas as pessoas, independente de fumarem ou não – ou em qualquer outro lugar fechado.

Esse hábito terrível, inclusive, já quase me fez desistir de frequentar certos lugares, como as boates.

Em uma certa noite, quando estávamos no karaokê, meus amigos decidiram que queriam ir para uma boate depois; eu concordei na hora, pois estava muito ansiosa para conhecer a vida noturna chinesa, uma vez que, ao meu ver, os chineses pareciam não saber se divertir tanto. Então voltei para casa para trocar de roupa, enquanto o pessoal procurava uma boate. O preço foi consideravelmente alto para mim – algo em torno de 75 reais –, pois estou acostumada com festas de quinze a trinta reais no Brasil e com bares cuja entrada é de graça; isso sem contar com as bebidas que consumimos – gastei uns 30 reais em um único drink, com pouquíssimo álcool e quase nenhum conteúdo no total. Mas eu estava bastante animada, aquele seria nosso primeiro final de semana livre, eu sentia falta das noites de diversão no Brasil, ainda tinha um pouco de dinheiro extra, sendo assim, por que não?
10 de agosto de 2016

Enfrentando os estereótipos sobre a China



(Legenda: Um tipo de minhoca gorda muito comum na China dentro da cesta azul em um mercado, no meio de vegetais. Muitas estavam vivas e se mexendo no momento em que a foto foi tirada)

Antes de viajar eu decidi que não queria ler nada sobre a China; queria experimentar tudo por mim mesma e não ter nenhuma ideia preestabelecida para influenciar minhas opiniões. Essa, decerto, foi uma das melhores escolhas que fiz, pois se eu tivesse lido sobre certas coisas, ou as situações que vivi não teriam sido tão engraçadas ou eu poderia ter desistido de vir.

Escolhi morar um país bastante diferente do meu, literalmente do outro lado do mundo, com mais de cinco mil anos de história – o que é bastante em comparação com os 500 anos do Brasil –, de tradições e de cultura, portanto eu já viajei ciente de que minha vida aqui não seria nem um pouco parecida com o que era em Natal. Também viajei carregando em minha bagagem mental todos os estereótipos e preconceitos usuais sobre os chineses: são todos “iguais”, então preciso tomar cuidado para não me perder dos meus amigos; comem cachorro e insetos; não são nem um pouco higiênicos; não conseguem falar “pastel de frango”. Ao chegar aqui, percebi que existe sim um pouco de razão nesses pensamentos, mas, claro, eles são muito generalizados.
25 de julho de 2016

A viagem que muda minha vida


Medo: foi o sentimento que me dominou durante todas as transições de aeroporto e de avião. Não porque tenho medo de voar, isso eu consigo relevar; também não porque eu tenho medo de ficar sozinha em um país estranho – minha parada seria no Estados Unidos e, na pior das hipóteses, ao menos falo inglês. Era um medo inexplicável, o medo do desconhecido. Como no mito da caverna de Platão, meu interior estava amarrado à uma pedra, assistindo um espetáculo diário de sombras: minha vida antiga, confortável, simples; então algo dentro de mim me fez decidir viajar para o outro lado do mundo, como se esse algo tivesse se libertado das correntes e estivesse, naquele momento, tentando mostrar ao resto que a vida não era só aquilo.

É difícil deixar para traz tudo o que se ama para se jogar no desconhecido, sem uma certeza do que se procura, sem uma garantia de que algo será encontrado. Durante todo o caminho eu não conseguia parar de pensar: “Tudo bem, eu posso voltar quando eu quiser... Posso voltar quando eu quiser... Posso voltar quando eu quiser...”. Não conseguia parar de questionar minha escolha, de tentar entender a razão que me fizera partir. Mas ao mesmo tempo, sentia-me presa em um limbo emocional, no qual nada realmente importava, no qual nada era real, e a única certeza era que não existia mais a possibilidade de voltar atrás. E eu sabia que isso só iria passar no momento em que as coisas começassem a acontecer de verdade.

Apesar do medo, o limbo emocional me deixou tão letárgica que fiquei surpresa de não ter vivido nenhum momento de emoções negativas intensas. Esperei, sinceramente, chegar uma situação na qual eu quebraria, quando finalmente entendesse onde estou e não tem mais volta, então ficaria triste e choraria. O que aconteceu foi o contrário: não poderia estar mais feliz de estar aqui e a única coisa que me faz sentir algo parecido com tristeza é a possibilidade de voltar.

Como eu disse no texto anterior, o que me fez, inicialmente, ter a ideia de viajar, foi uma situação que me entristeceu e me fez querer fugir. Pouco antes de vir para a China, porém, eu percebi que minha felicidade não estava no controle de ninguém além do meu próprio. Pode até parecer frase de livro de auto ajuda, mas é a pura verdade: não importa o quão triste você está, a única pessoa que pode mudar isso é você mesmo. Se eu não tivesse percebido isso antes de viajar, provavelmente estaria passando pela mesma tristeza aqui, pois não importa se você muda de país, seus sentimentos continuam lá dentro, no mesmo lugar.

Sem a motivação inicial, parei de criar expectativas – o que pode parecer difícil de acreditar –, viajei sem esperar absolutamente nada. Claro que tentei pensar de modo positivo, no entanto não fiquei fazendo os habituais planos na minha mente, apenas me deixei vir, e agora todos os dias me deixo viver. É uma pena ter demorado tanto tempo para perceber que não é porque estou na China que todos os dias vivo experiências novas – claro que algumas são devido à falta de conhecimento da língua ou da cultura –, isso é possível se fazer em qualquer lugar do mundo, basta se deixar experimentar, tentar, não planejar tudo, deixar-se levar um pouco. As coisas não vão ser sempre como esperamos, então o melhor a se fazer é procurar o lado bom das coisas e viver do jeito mais feliz possível.

As minhas piores experiências aqui foram responsáveis pelas melhores memórias até agora. Isso porque em vez de olhar pelo lado negativo, eu me deixei aproveitar o momento, rir dos infortúnios da vida. Como em Pequim, no nosso último dia lá.
10 de julho de 2016

Ainda um sonho

(Imagem: Alma de Viajante)
Eu pensei muito antes de começar a escrever esse primeiro texto. Repassei tudo na cabeça centenas de vezes, escrevi e reescrevi os parágrafos. Há tanto que eu gostaria de dizer, tantas formas como eu poderia tentar passar a mensagem. Essa diversidade de possibilidades – de escrever, de ver, de sentir, de viver e transmitir os momentos – foi uma das principais coisas que me serviu de atrativo para escolher o curso de jornalismo. Isso porque uma das coisas que eu mais gosto é aprender, e a diversidade leva a infinitas possibilidades de aprendizado. Outra coisa que contribui com esse processo é o diferente; colocar-se em uma situação nova e precisar pensar em caminhos diversos para resolver problemas com os quais jamais se deparou. E é por isso que eu vou para a China.
3 de maio de 2016

Os setes saberes necessários à educação do futuro

(Imagem editada por: Revista Fator Brasil)

Eu terminei a série de textos revoltosos sobre a educação com perguntas demais. Não pretendo respondê-las ainda, pois não sinto que construí essa competência o suficiente para fazê-lo. Fiz muitos progressos intelectuais relativos ao assunto entre o período de escrita e de conclusão do texto, mas esses progressos ainda estão em construção e para mim não faz sentido compartilhá-los sem que antes estejam completos. Sendo assim, decidi complementar essa série com um livro que me ajudou muito nessa nova caminhada à procura de respostas, que têm servido como guia na minha busca de novos aprendizados e que eu espero poder ajudar também aqueles que se interessaram ou se identificaram com os assuntos abordados na série.

 
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